AUTISMO E DEPRESSÃO: COMO ADMINISTRAR A AUTODEPRECIAÇÃO

m kelter

copyright M.Kelter

M. Kelter, “escritor, felino caseiro, cosmonauta social”. Ele foi diagnosticado como autista por volta dos 30 anos de idade, quando procurou ajuda para tratar a depressão. Com maior entendimento de sua personalidade e do que causava seu senso de inadequação, ele começou a escrever sobre a experiência no blog The Invisible Strings, de onde foi tirado o texto de hoje, que faz parte de uma série sobre depressão e autismo e como esses dois diagnósticos se interconectam, principalmente em adultos.

Eu pretendo traduzir outros textos dessa série no futuro, mas por enquanto, fiquem com uma lista que Kelter fez sobre as 10 coisas que ele queria ter ouvido de seus pais e outros adultos em sua vida, quando criança. Dez coisas que o teriam ajudado a desenvolver melhor sua autoestima enquanto se tornava um adulto no espectro do autismo.

Postagem original em inglês: http://theinvisiblestrings.com/autism-depression-managing-self-hatred-aspergers-asd/


Autismo e depressão: como administrar a autodepreciação

M. Kelter

22 de setembro de 2014

 

Como uma criança no espectro do autismo, eu recebi muita pressão para me misturar aos outros e esconder as diferenças. Como um adulto no espectro do autismo, eu entendo quais são as consequências deste tipo de pressão.

Quando se é jovem e alguns traços que são parte de quem você é, recebem reações negativas das pessoas –especialmente dos pais e professores–, o senso de autoconfiança e bem estar pode erodir. Por sua vez, isto cria o terreno perfeito para a autoflagelação e a depressão.

Intervenções que têm como meta esconder… intervenções que estabelecem o objetivo da homogeneização: na verdade, desvalorizam o indivíduo e causam mais danos do que benefícios. Não digo que terapias e apoios sejam ruins, mas eu aprendi que elas funcionam melhor quando se baseiam no respeito pela personalidade e jeito de ser do indivíduo.

Eu penso muito nisso quando pais escrevem perguntando, “meu filho odeia suas diferenças e seu diagnóstico… como posso ajudá-lo?” Infelizmente, essa é a questão que recebo com maior frequência.

Como só posso falar por mim mesmo, eu não sei o quão efetivamente posso responder a essa pergunta. Mas, pelo menos, posso pensar em retrocesso nas minhas próprias experiências e considerar qual tipo de retorno teria sido benéfico em minha vida.

Pensando nisso, eu fiz uma lista das dez coisas que eu mais precisava ter ouvido quando eu era uma criança no espectro do autismo. Eu não sei se ela pode ajudar outros a pensar com mais clareza sobre quem são ou como se identificam no mundo. Eu apenas sei que, para mim, melhorar significou ter de reverter muitos desses retornos que eu recebia do resto do mundo. (E, para ser honesto, minha versão adulta poderia ter usado essa lista mais cedo também).

Dez coisa que eu precisava ter ouvido:

1- Você vai atingir marcos sociais/de desenvolvimento a seu próprio tempo, do seu próprio jeito… e não há nada errado com isso. Ignore aqueles que dizem o contrário.

2- Tentar “encaixar-se” vai lhe fazer sentir muito mal. Na verdade, “encaixar-se” irá fazer-lhe sentir pior. Você é diferente. Deixe fluir.

3- Forçar-se a olhar nos olhos irá fazer-lhe sentir mais isolado ao invés de mais conectado.

4- Tentar aprender a linguagem corporal vai fazer-lhe sentir mais sozinho.

5- Orientar-se na corrida de obstáculos que são as conversar casuais é sempre mentalmente exaustivo. Você se sentirá mais feliz quando aprender a evitá-las com educação.

6- A inépcia social é seu radar social; quando as pessoas reagem mal a ela, você deve evitá-las. Quando as pessoas são receptivas a ela, elas são aquelas em quem você deve confiar. Sua inépcia social: ame-a, use-a.

7- Quando você se sente envergonhado, é porque absorveu os valores das pessoas erradas. Quando se sente em paz, você está agindo segundo os seus próprios termos.

8- Quando sente ressentimento pelas pessoas socialmente hábeis, é porque você está se esforçando demais para ser algo que não é. Quando sente aceitação e compaixão pelos socialmente hábeis, você está seguindo os seus próprios termos.

9- Muitas pessoas não valorizam a diferença, mas isso não tem importância. O que importa é que as pessoas certas valorizam a diferença. Evite as primeiras. cerque-se das segundas.

10- Você não pode fazer tudo isso sozinho. Você vai tentar…  você vai perder a esperança de que seja possível receber ajuda ou sentir-se conectado a outra pessoa. As pessoas bacanas estão por aí. Encontrá-las vai fazer o esforço valer a pena.

 

 

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5 respostas para AUTISMO E DEPRESSÃO: COMO ADMINISTRAR A AUTODEPRECIAÇÃO

  1. Lindamir Florindo disse:

    Gostei muito de poder ler essas informações , tenho um neto com autismo, ou autista, a verdade q não gosto de rotular porque aceito a sua situação com normalidade e procuro entenderlo como seja, nos amamos e isso é fundamental em nossa família.

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  2. fulaninhodetal disse:

    Essa é ótima… “inépcia social: ame-a, use-a”. Quer dizer então que uma pessoa autista deve simplesmente não conhecer as regras sociais e se comportar como um homem de Neanderthal, ou então se fechar dentro de um iglu e não conviver com ninguém? A meu ver todos deveriam aprender as regras sociais e se esforçar para segui-las. O correto seria o cara tentar, de alguma forma, ajudar os aspies a aprender as regras sociais, e não se apegar á inabilidade social como forma de diferenciar as pessoas.

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  3. Miriam Jácoma disse:

    O meu filho não aceita bem o fato de não conseguir ter amigos. Está entrando em depressão. Tenho conversado, mas ele é quem não consegue aceitar bem sua condição. Isso tem dificultado.

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    • alexiamkg disse:

      Oi Miriam,
      Obrigada pelo comentário. Qual é a idade de seu filho? Você já tentou entrar em contato com outras pessoas que já passaram pelo que ele está passando para conversar?
      Abraços!

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  4. Pingback: Marcos Petry

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