EXPECTATIVAS?

Capa do e-book de Pedro de Lucena, de onde os poemas aqui publicados foram retirados, com permissão do autor. Clique na imagem para ler o e-book.
Da vida quero o viva!
Do abraço o aperto.
Do hoje o instante, do amanhã recomeço.
DESMOTIVO
(Intertextualidade com “Motivo” de Cecília Meireles)
Eu me desmotivo sem motivo.
Vivo sempre perplexo,
Querendo a sombra de um amigo
Onde eu possa descansar.
Me sinto levado pelo vento de minha solidão,
E só mesmo lendo Lispector para refletir minha escuridão.
Se me desmonto não sei, não sei.
Se me refaço me desmonto de vez.
Até que me reencontro outra vez e me pergunto:
Demoras a vir, e quando chegas logo vais embora?
Fujo de mim mesmo todos os dias.
Se sou alegre ou triste, distante ou próximo, afetuoso ou insensível,
Nem mesmo eu sei.
Mas, de tudo isso e dentro disso tudo existo,
E uma coisa eu digo:
Sou autista e isso é tudo.

No dia 27 de novembro foi lançada a coletânea 28 Cantos de Solidão, que conta com um texto de Pedro.
SENTIDO
Sentido sinto sem sentir,
Sigo sentindo sempre sua sensação.
Sinto sonidos secretos,
Som sinuoso, sincero silêncio
Sinto sentir.
Surreal, sal, sentido, sabor, sorrir.
Sonho secreto senti.
Sofrimento, solidão, sólida sensação
Sinto sem sentir.
O SORRISO DA ALMA
Sinto minha alma sorrir
De perene alegria se encher
Quando dela irradia
Toda luminosidade do meu ser.
Vívido, deslumbrante e límpido ser,
Que mesmo sendo estranho e escondido
Revela-se ingênuo e destemido
Em busca de viver.
Essa luz que brilha em meu ser
Vem da fonte de eterna energia,
Jesus o filho de Deus,
Meu salvador e guia.
AGONIAS
(musicada por Hanna Vitória e Júnior Xanfer)
Das agonias que me invadem o ser
Muitas são as que me não deixam ser
Seguro de mim mesmo, um ser em desespero,
Uma estranha criatura a vagar.
As angústias que me inundam
Me levam para o alto mar
Onde as águas são mais turvas e profundas,
Onde perdido não sei navegar.
Onde estás ó alma minha?
Sai desse calabouço de solidão,
Sai dessa agonia de escravidão.
Liberta-te dessa gota de ilusão
Pedro Carvalho de Lucena, atualmente com 20 anos, mora no Recife, é autista “não verbal” e se comunica digitando em um teclado.
Com o suporte de um profissional facilitador, utilizando a estratégia de comunicação alternativa chamada Comunicação Facilitada, Pedro digita o que quer dizer, seus pensamentos e sentimentos, e assim escreve seus poemas e textos.
Alguns poemas de Pedro já foram publicados na Revista Subversa de Literatura Luso-brasileira, e em julho de 2018 foi publicado seu primeiro livro de poesias intitulado “Parabólicas”, na forma de ebook.
O seu conto “Viajante do Silêncio” consta da coletânea “28 Cantos de Solidão” organizada pelo escritor Paulo Caldas, cujo lançamento ocorrerá no dia 27.11.2018 no Clube Alemão do Recife.
Pedro tem se apresentado em alguns eventos, como no 1º Encontro Brasileiro de Pessoas Autistas (EBA), organizado em 2016 pela Abraça, em Fortaleza, e tem sido uma inspiração para as pessoas autistas e não-autistas que o conhecem.
Em 2018 Pedro foi aprovado no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), em todos os conteúdos do Ensino Médio, e pensa fazer faculdade de pedagogia ou psicologia, para ajudar outras pessoas autistas.
Até os 13 anos de idade, Pedro não tinha um meio para expressar seu mundo interior. Seus primeiros versos, feitos pouco tempo depois de começar a se comunicar digitando, diziam:
Bacana saber que eu sou entendido
Só, doente, mostro meu sentimento
Antigamente mamãe me nascido
Agora soa só meu pensamento.