Esta postagem é um pouquinho difícil para mim, pois acho que ela pode causar um certo desconforto, mas quem sabe eu esteja errada?
Bem, é que eu nunca gostei muito de histórias inspiradoras de superação. Elas sempre me deixaram um pouco incomodada e isto intensificou-se depois que passei a conviver com um autista de perto. Poderia ser qualquer outra dificuldade ou deficiência, mas no meu caso, é o autismo.
A princípio era só um incômodo e eu não me preocupava em moldar uma justificativa para essa sensação. Com o tempo, a justificativa foi tomando forma sem que eu me desse conta, sem que eu jamais tivesse tentado expressá-la em palavras. Basicamente, o incômodo está no uso da imagem da pessoa deficiente como uma fábula distante que serve para motivar a vida de nós, pessoas “normais”, e para colocar nossos problemas em perspectiva. Mas desta forma, o deficiente, a pessoa, comum como todos nós, anula-se, ou apenas tem importância como história inspiradora. Na minha opinião, esta visão não contribui para uma sociendade inclusiva, apenas nos faz sentirmos melhor com nossa vida.
Uma pessoa que me ajudou a estruturar meu incômodo foi a Stella Young, uma australiana que nasceu com osteogênese imperfeita, uma doença rara que afeta os ossos. Infelizmente, Stella Young morreu aos 32 anos no último sábado. Ela era uma ativista, comediante e escritora.
Neste Ted Talk ela explica direitinho o que chamava de “pornografia inspirativa”.
Fica aqui meu pequeno tributo a ela.
Há legendas em português.
Republicou isso em O Desenhista das Ruase comentado:
Publicação original do blog “O Autismo em Tradução” (12/09/2014)
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